A voz marcante e a vocação pós-tropicalista para a mistura de gêneros reafirmam a música de Arnaldo Antunes em seu novo álbum. O lançamento ocorreu ontem e sucede "RSTUVXZ" (2018).
Prestes a completar 60 anos de idade, Arnaldo Antunes criou um caminho sólido no cenário da música e da literatura brasileira. Compositor celebrado desde a década de 1980, poeta concreto, o artista mantém um traço inconfundível em sua expressão: a voz. Seja pelo canto, ou pela fala - algo que é notório em entrevista por telefone ao Verso, o timbre vocal de Arnaldo marca o ouvinte e dá um aperitivo seguro sobre do que se trata sua arte.
Ainda mais claro e minimalista, o artista lançou seu 18º álbum, "O Real Resiste", nesta sexta (7), nas plataformas digitais. A trajetória solo é uma das espinhas dorsais do percurso de Arnaldo na música. Sempre lembrado por integrar a formação clássica dos Titãs (1981-1992) e o trio Tribalistas (ao lado de Carlinhos Brown e Marisa Monte), o paulistano se lança no ecletismo artístico com propriedade e naturalidade.
"O Real Resiste" reúne 10 faixas e uma lupa voltada à mensagem das letras. Sem bateria e nem percussão no registro, Arnaldo construiu uma sonoridade mais delicada, sem deixar de soar envolvente e mexer com o ouvinte na forte faixa-título (um excelente olhar sobre o momento político atual) ou na singela "Na Barriga do Vento". Nesta canção, ele divide os vocais com a filha Celeste e entrega uma crônica suave sobre a peleja de dar liberdade aos filhos.
"A Celeste estuda música, adora cantar, compõe também. E essa música fala desse amor de pai com filho. De vê-los crescendo e se preparando pra independência. Tenho 4 filhos, e tenho vivido isso", situa Antunes.
Pesquisa, Redação e Edição: Carlos Martins
Por Felipe Gurgel
Fonte: Diário do Nordeste
Foto: Márcia Xavier