Uma tristeza profunda, um desânimo, um incômodo que não é físico. A dona de casa Raelly Pereira de Sousa, moradora da comunidade Nova Canudos, no Jangurussu, periferia de Fortaleza, sentia-se abatida. "Eu chorava muito. Achava que ia morrer. Não tinha coragem de cuidar do meu filho de cinco anos. Eu fiquei paranóica", conta.

A manifestação dos sintomas depressivos foi no ápice da pandemia, entre abril e maio. A situação ficou complicada e a depressão evidente. Raelly precisou de ajuda. Mas, no seu território, reconhecer e acolher o problema é entrave. Ter acesso ao tratamento e comprar a medicação também. Hoje, ela segue em acompanhamento, e junto a centenas de pacientes da saúde mental, moradores da periferia, sabe que as barreiras ainda são muitas. Vão desde a superação de estigmas até a garantia do acesso aos cuidados necessários.

Pandemia

A crise ficou aguda quando as mortes por Covid se acentuaram no bairro. Ela e o marido buscaram ajuda. Raelly, que é conselheira de saúde no posto próximo a sua casa, conta que não optou pelo Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) por já saber da demanda no local. A alternativa foi buscar o médico Rino Bonvini, do Movimento de Saúde Mental Comunitária do Bom Jardim, que atua no acompanhamento terapêutico de moradores de área pobres da Capital.

O psiquiatra, presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria Social e criador da terapia comunitária, iniciada há 34 anos, Adalberto Barreto, também enfatiza a interrupção das atividades presenciais de acompanhamento terapêutico gerou efeitos e isso será percebido de forma mais intensa nos próximos períodos e irá forçar os gestores a repensarem as políticas de promoção da saúde. “Com a chegada da pandemia, há muito estresse reprimido, insônia, sofrimento humano e o grande perigo é se medicalizar isso distribuindo remédio”, acrescenta. 

Pesquisa, Redação e Edição: Carlos Martins

Por Thatiany Nascimento/Felipe Mesquita/Darley Melo

Fonte: Diário do Nordeste

Foto: Fabiane de Paula