Não bastasse o problema da falta d'água que acontece com frequência, o líquido que escorreu da torneira ainda veio com a presença de uma espuma oleosa, no fim do ano passado, na casa da estudante Monalisa Paula, moradora de Maranguape, na Região Metropolitana de Fortaleza. Contudo, não foi a primeira vez que o caso ocorreu. Problemas com a qualidade da água não são incomuns no Ceará, e põem em risco a saúde de mais de 600 mil pessoas, que a recebem nas torneiras sem nenhuma desinfecção.

A informação é de um relatório do Sistema de Informação de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano (Sisagua), divulgado pela Secretaria Estadual da Saúde (Sesa). Ao todo, 620 mil cearenses - 6,75% do total - não recebem água tratada. Eles utilizam soluções coletivas, como chafarizes, dessalinizadores, carros-pipas e caixas de distribuição pública. O percentual de desassistidos se refere principalmente a "comunidades rurais dispersas, que captam água direto dos mananciais, sejam superficiais ou subterrâneos, para consumir".

O relatório do Sisagua também traz informações sobre a análise laboratorial da água. Identificou-se a presença de coliformes totais - um grupo de bactérias - em 36,9% das amostras, sendo 30,8% nos sistemas de abastecimento, 70,8% nas soluções coletivas e 74,3% em soluções individuais. Ou seja, quanto mais o tratamento cabe aos próprios consumidores, menor qualidade a água apresenta. Entre os fatores indicados pelo documento, estão o armazenamento inadequado, a intermitência no abastecimento e fontes de água sem nenhuma proteção.

A Cagece, por sua vez, declara que presta serviço de abastecimento em 98,3% dos municípios onde atua, "obedecendo a todos os parâmetros de qualidade definidos pelo Ministério da Saúde". A Companhia ressalta que o recurso passa por, no mínimo, três etapas: desestabilização das impurezas, filtração e desinfecção.

O professor Fernando Araújo, da UFC, reforça que a garantia de qualidade do recurso no semiárido só pode ser alcançada através de um programa de educação sanitária, especialmente voltado a mulheres e crianças, com a realização de monitoramentos de desempenho. "O problema é a continuidade. Se você der continuidade, o retorno é fantástico", projeta.

Pesquisa, Redação e Edição: Carlos Martins

Por Nícolas Paulino

Fonte: Diário do Nordeste

Foto: Reprodução