Sandra, Maria de Lourdes e Francisco Antônio compartilham a aflição pela incerteza sobre o sustento dos filhos. Eles perderam a fonte de renda durante a pandemia e se depararam com a fome.
Em busca do sustento da família, Sandra Holanda, de 57 anos, sai de casa carregando um carrinho de mercantil mesmo que o alimento não venha das prateleiras. O que consegue levar para o marido e quatro netos, na verdade, são sobras de frutas, verduras e carnes retiradas dos sacos durante a coleta de lixo. Ela faz parte do grupo de Fortaleza em situação de desamparo extremo retratada em vídeo que viralizou.
O flagrante ganhou notoriedade quando o motorista por aplicativo André Queiroz publicou a situação na internet. Idosos, mães e pais, por vezes acompanhados das crianças, compartilham a amargura do desemprego e a busca pelo almoço entre o que é rejeitado no lixo.
Dois dias depois que o vídeo veio à tona, o Diário do Nordeste foi até o local e encontrou várias famílias que esperavam a chegada do caminhão de lixo, que nesta quarta-feira (20) passou antes do esperado. Sandra se deparou, no entanto, com voluntários que distribuíam cestas básicas. Ela contou sobre o dia a dia de quem precisa tirar do lixo a sobrevivência.
“Eu tenho problemas nos pés de tanto trabalhar, mas não consigo operar, dói muito quando eu ando. Cortaram minha água, cortaram minha luz, está tudo derrotado. Derrotado não, porque a gente está com Deus e enquanto eu tiver fé a gente vai passando”, pondera a mulher que mesmo próxima da terceira idade ainda enfrenta incertezas quanto à sobrevivência da família.
FAMÍLIA DA RUA
“Aquele foi o pior dia, muitas mães estavam chorando de fome, foi uma correria”, lembra Maria de Lourdes, de 43 anos, sobre o registro feito das pessoas revirando depósitos com restos de alimento. Ela e o esposo, Francisco Antônio, de 38 anos, dividem o trabalho com reciclagem - complemento da renda há cerca de 10 anos - e na espera pela comida disponível quando o caminhão do lixo passa.
Maria é diabética e os olhos vermelhos evidenciam a infecção tratada de forma inadequada apenas com o medicamento que recebeu quando foi ao hospital. “Eu agradeço muito o Auxílio (Emergencial), mas não dá para nada porque a gente paga aluguel, água e energia. O que são R$ 385? Nós vivemos nessa vida não porque a gente quer, mas por precisão mesmo”, frisa.
SENTIMENTO TRANSFORMADO EM AÇÃO
No porta-malas do carro, a farmacêutica Renata Eleutério, de 38 anos, retira cestas básicas para doação, porque não se deve acostumar com cenas tão impactantes, como reflete. “Mais do que dar essa cesta básica, vamos fazer o cadastro das famílias para que essa ajuda não seja só dessa vez, mas que a gente possa acompanhá-los por alguns meses”, detalha.
AÇÕES SOCIAIS
A Secretaria Municipal da Saúde (SMS) realiza a busca ativa de pessoas em situação de rua por meio da parceria com instituições sociais, como informou a pasta por meio de nota. “Até a última terça-feira (19), deste público, 1.186 receberam a primeira dose, 483 receberam a segunda dose e 879 receberam dose única”, completa.
A Secretaria dos Direitos Humanos e Desenvolvimento Social (SDHDS) informou que são fornecidas cerca de 100 mil refeições por mês para quem está em vulnerabilidade social. São ofertadas quentinhas e sopas, distribuídas em pontos em bairros como Centro, Parangaba, Bom Jardim e Mondubim.
Pesquisa, Redação e Edição: Carlos Martins
Por Lucas Falconery
Fonte: Portal Diário do Nordeste
Foto: Reprodução/Lucas Falconery