Entrar no ensino infantil possibilita aprendizado, desenvolvimento cognitivo e proteção social com relevância mesmo quando se é tão pequeno. No Ceará, cerca de 31 mil crianças de 4 e 5 anos aptas a cursar a pré-escola deveriam estar matriculadas em centros de educação infantil para atender às metas do Plano Nacional de Educação (PNE). Porém, ainda não estão.
O cenário está retratado no levantamento do Comitê Técnico da Educação do Instituto Rui Barbosa (CTE-IRB), vinculado aos Tribunais de Contas dos Estados. Os dados do Comitê têm como bases o Censo Escolar da Educação Básica 2020, as estimativas municipais anuais do IBGE e informações de nascidos vivos e mortalidade do Ministério da Saúde, referentes a 2019.
Os cálculos indicam que o Estado tem 265 mil crianças em idade pré-escolar, das quais 234 mil estão matriculadas. A meta do PNE era que 100% delas estivessem matriculadas até 2016, mas, em 2020, apenas 86 cidades cearenses atingiram esse objetivo.
AMPLIAÇÃO DAS VAGAS EM FORTALEZA
Em nota, a Secretaria Municipal da Educação de Fortaleza (SME) declarou que "a Educação Infantil é uma área prioritária da gestão municipal", ressaltando a ampliação do número de vagas em 5%, em 2020, em comparação ao ano de 2019, enquanto o crescimento das demais capitais brasileiras foi de 2,3%.
Atualmente, 98 Centros de Educação Infantil ofertam vagas em creche e pré-escola a mais de 55 mil alunos. Em 2020, eram 52 mil e, em 2011, 31 mil, de acordo com a Secretaria.
BENEFÍCIOS DESDE CEDO
De acordo com especialistas em Educação, quem está fora da sala de aula acaba por perder um momento especial para aprimorar as habilidades de socialização e de construção da identidade.
ESFORÇO NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Logo pela manhã Juliana Calácio, 34, prepara os filhos Benjamin, 10, e Maria Júlia, 3, para a rotina de estudos e atividades. “A Maria Júlia começou a estudar com três anos, numa escolinha, mas eu não coloquei na creche aqui perto porque não tinha mais vagas”, pondera.
A mãe já se organiza para colocar a caçula, Maria Bella, de 1 ano e 4 meses, para dar início à vida escolar na creche do bairro Alto da Balança.
PREJUÍZOS A CURTO E LONGO PRAZO
O Comitê avalia que o poder público “precisa tanto providenciar a matrícula daquela criança cujos pais ou responsáveis demandam vaga na escola; como identificar, por meio da busca ativa, aquelas à margem do sistema educacional, visando a inseri-las no sistema de ensino”.
Para o presidente do CTE-IRB, Cezar Miola, a pandemia acentuou a piora nos índices, uma vez que várias famílias estão perdendo renda e transferindo os filhos para o ensino público, podendo levar a uma sobrecarga nas redes. Além disso, avalia que a oferta de vagas é preponderante para a manutenção ou a reinserção dos pais no mercado de trabalho.
DEFASAGEM NAS CRECHES
Além da pré-escola, o estudo do CTE-IRB também calculou a necessidade de vagas em creches, onde a matrícula é opcional, para o atendimento a crianças de 0 a 3 anos. No Ceará, o índice alcança 33,8% das 513 mil pessoas dessa população.
Contudo, a meta do PNE é que 50% das crianças nessa faixa etária estejam matriculadas até o ano de 2024. Para que o Ceará atingisse essa meta em 2020, ainda precisaria abrir, pelo menos, mais 83,1 mil vagas.
Atualmente, segundo os dados, apenas 24 municípios cearenses ultrapassaram a meta, enquanto há mais 19 acima de 45%. Fortaleza aparece na 13ª pior colocação, com cobertura de 26%: apenas 37,7 mil das 145 mil crianças estão matriculadas na modalidade.
Pesquisa, Redação e Edição: Carlos Martins
Por Nicolas Paulino e Lucas Falconery
Fonte: Portal Diário do Nordeste
Foto: Camila Lima/Reprodução