O sonho da estudante Mariana*, de 20 anos de idade, ganhou cores vivas, vibrantes, algo antes inimaginável. Ela vai terminar o ensino médio agora no final de 2021. Quando podia imaginar que um dia poderia voltar à escola? Mais do que isso: emociona-se quando pensa que é possível criar com qualidade os três filhos, graças à evolução da ciência e ao apoio de uma entidade. Ela deseja, para o futuro próximo, uma profissão de servir, salvar, dar a mão... O sonho é entrar em uma faculdade e ser enfermeira. Poder ajudar outras pessoas, assim como foi com ela, resgatada de um pesadelo.
Mãe de três filhos e vítima de um estupro, quando tinha apenas 16 anos de idade, ela temeu sobre o próprio futuro e das crianças quando descobriu que havia sido contaminada pelo vírus HIV, que pode causar a aids. “Praticamente, estou a um passo de realizar meus sonhos. O que aconteceu comigo foi um milagre”, emociona-se a jovem. Antes, moradora da Cidade Ocidental (GO), município que fica no Entorno do Distrito Federal, ela foi acolhida pelo Instituto Vida Positiva, em Brasília, entidade que completa 15 anos, nesta quarta, e que nasceu com a intenção de apoiar crianças e adolescentes contaminadas pelo vírus.
A pior doença
A fundadora e coordenadora do Vida Positiva, Vicky Tavares, de 72 anos, entende, porém, que, além de garantir as condições essenciais para essas pessoas, uma função fundamental do instituto é buscar direitos assistenciais, o que inclui informação e a luta contra um adversário que permanece muito vivo em 2021, e ainda mais poderoso que o vírus, o preconceito. "Essa é uma doença muito pior", afirma.
Pandemia
Com a pandemia, a situação se agravou para a entidade, que perdeu cerca de 40% em doações. A voluntária da entidade, a cabeleireira Daniela Gomes, de 44 anos, que participa das atividades como captadora de doações por telemarketing, lamenta que, com a crise, ou a entidade perdeu apoiadores ou reduziram em quantidade de recursos.
Entre as conquistas recentes, Daniela destaca que o isolamento social não impediu as crianças de estudarem. A entidade conseguiu apoio junto à Câmara dos Dirigentes Lojistas (CDL), que cedeu computadores para que as crianças pudessem acompanhar as aulas on-line nos últimos dois anos de distanciamento.
Farofa
Para atender as necessidades financeiras da entidade, além das doações, a equipe criou uma forma alternativa de conseguir recursos: a venda de uma “farofa” solidária, que é comercializada em feiras e nas redes sociais também. Um detalhe é que o produto não é apenas no sabor tradicional, mas também oferecido em 20 versões, incluindo de torresmo, de damasco e até chocolate (com pimenta ou sem).
A expectativa é que, com a proximidade do final de ano, as vendas da farofa e também as doações aumentem. “Na época de Natal, as pessoas ficam mais sensíveis e recordam. O desafio é conscientizar de que precisamos de apoio sempre”, afirma a voluntária Daniela Gomes.
O produto, em seus diferentes sabores, é todo feito na cozinha da ONG. “Eu sempre gostei de cozinhar e me perguntava o que eu poderia fazer que poderia ser vendável. O que eu poderia fazer para ajudar essas pessoas? Minha família sempre elogiou a farofa que eu fazia em casa. Achei que podia ser viável. E passamos a inventar. O trabalho foi garantir mais ingredientes e aumentar as panelas. Importa aqui compartilhar amor entre a gente. Essa é a receita da farofa”, ressalta Vicky Tavares. Farinha, manteiga, cebola e bons sentimentos.
Pesquisa, Redação e Edição: Carlos Martins
Por Luiz Claudio Ferreira
Fonte: Portal Agência Brasil
Foto: Reprodução