Turmas na transição entre os ensinos fundamental e médio são as que concentram mais alunos nessa situação.
Mariana* cursava o 1º ano do ensino médio, aos 15 anos, quando “as contas apertaram” na casa que divide com a mãe e dois irmãos pequenos, na periferia de Fortaleza. A rotina de estudos matinal passou, então, a ser noturna. “De dia, precisava trabalhar.” Depois, conciliar ficou impossível. “Aí reprovei.”
Aos 16, quando muitos estudantes concluem o ensino básico, ela reiniciou o médio, “com muito esforço e insistência da mãe pra não desistir” – mas já sendo uma dos 190.796 estudantes cearenses que estavam atrasados nos estudos, em 2020, conforme o Censo Escolar.
O número corresponde a cerca de 15% de todos os matriculados nas redes municipais e estadual de ensino.
O número inclui os alunos das redes municipal e estadual do Ceará que estão em distorção idade-série, ou seja, deveriam, pela faixa etária, estar num patamar mais avançado de aprendizado.
Entre os cearenses, o problema atravessa todos os níveis, mas se concentra num período: a transição entre os ensinos fundamental e médio.
A psicopedagoga Ticiana Santiago, professora da Universidade Estadual do Ceará (Uece), explica que a passagem dos anos finais do ensino fundamental para o médio deixa clara a influência direta que os fatores sociais e emocionais têm no processo de educação.
É nesse período que a adolescência começa a dar espaço à vida adulta, os estudantes são demandados a trabalhar e enfrentam mais conflitos sociais, sejam relacionados a si, sejam ligados ao convívio familiar.
As dificuldades de aprendizagem e de permanência em sala de aula, então, se acumulam. “Fora isso, ainda há poucos psicólogos e psicopedagogos para identificar os desafios e atuar preventivamente para evitar a evasão”, lamenta Ticiana.
A Pasta frisou ainda a queda histórica da distorção idade-série na rede pública de ensino. “Em 2006, no ensino médio, a distorção chegava a 50,5%; enquanto em 2021, era de 21%. Um decréscimo de quase 30 pontos percentuais”, pontua.
No Ensino Fundamental, também houve redução da quantidade de estudantes atrasados, conforme a Seduc: “em 2006, o índice era de 30,6%, enquanto em 2021, baixou para 9,4%, uma queda de 21,2 pontos percentuais nesse período”, informa.
Ainda sobre as ações executadas, a Seduc citou o projeto Professor Diretor de Turma, o Programa Busca Ativa Escolar e os Grupos de Apoio à Permanência Estudantil, além de medidas de estímulo à formação continuada de docentes.
Pesquisa, Redação e Edição: Carlos Martins
Por Theyse Viana
Fonte: Portal | Diário do Nordeste
Foto: Reprodução/José Leomar