Movimento reflete o elevado preço dos automóveis e o valor da conta de luz ainda em patamar alto.
O sonho do carro zero quilômetro permeia o imaginário popular há muito tempo, mas os ideais de consumo dos brasileiros ganharam novos contornos com as mudanças de comportamento provocadas pela pandemia.
O encarecimento da energia elétrica e o estratosférico custo para adquirir - e manter - um veículo foram os fatores que levaram a engenheira civil Nayara Gonçalves a desistir de financiar um carro e optar por um sistema de geração fotovoltaica com 12 placas solares. “A minha conta de luz vinha R$ 800 e agora eu pago R$ 90”, revela.
O automóvel seria comprado no início deste ano, mas bastou Nayara fazer as contas para perceber que o meio de transporte seria menos vantajoso naquele momento.
“O carro que eu queria estava R$ 60 mil. Financiando, eu ia pagar R$ 120 mil. Achei melhor financiar o sistema de R$ 35 mil, ter um retorno mais rápido e garantir conforto para a minha família”, diz.
Com a geração própria e consequentemente a economia na conta de energia, a engenheira decidiu colocar um aparelho de ar condicionado a mais na casa. “Eu não tinha ar na sala. Um conforto que não tem preço, para mim, valeu muito a pena. Eu acho que vai chegar um momento em que todos vão ter placas solares nas residências”.
PRIORIZAÇÃO
O gerente comercial da Sou Energy, Mário Viana, explica que esse movimento de consumidores priorizando a aquisição de sistemas fotovoltaicos vem sendo observado.
“Essas pessoas estão justamente buscando o conforto, elas querem poder usar o ar condicionado. Elas abriram o olho para o fato de que a energia elétrica é cara”.
Ele também pontua que existe o perfil de consumidor que financia o sistema de geração fotovoltaica e existe a aquisição “como uma conquista familiar”.
“A gente tem visto que a família se une para fazer essa compra; o pai entra com uma parte, os filhos, o avô… às vezes parcela uma parte no cartão, então a família se junta para aumentar o conforto”.
Ele acredita que a possibilidade de financiar o sistema facilita a aquisição, mas que é cada vez mais comum os consumidores fugirem do financiamento na hora de fechar a compra do sistema. “Com as taxas de juros altas, as pessoas preferem pagar no cartão”.
MANUTENÇÃO BAIXA
Mário Viana também destaca que a baixa manutenção do sistema é um atrativo para os consumidores. Essa manutenção consiste em uma limpeza, que pode ser feita apenas com água e uma escova de cerdas macias. Porém, como os sistemas são normalmente instalados em áreas altas, no telhado, o gerente comercial da Sou Energy explica que se contrata uma empresa especializada para isso. “Não vale a pena correr o risco de uma queda ou algo assim”.
O economista e conselheiro do Conselho Regional de Economia do Ceará (Corecon-CE), Ricardo Coimbra, detalha que a elevação dos preços da energia elétrica e também dos combustíveis tem pesado nas decisões de aquisição dos consumidores.
Ricardo Coimbra avalia que a tendência para os próximos anos é de crescimento no número de instalações de sistemas fotovoltaicos e com custo menores. “Nós devemos ter, posteriormente, preços mais equilibrados entre os carros movidos à combustão e os movidos à energia elétrica”.
Ele acrescenta que, conforme os preços dos veículos que funcionam com energia elétrica forem caindo, haverá uma aquisição ainda maior de sistemas fotovoltaicos para baratear o custo do transporte.
De acordo com dados deste mês divulgados pela Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar), o Ceará é o 11º estado do País em geração distribuída, acumulando desde 2012 416,6 MegaWatts de potência instalada. Minas Gerais é o primeiro do ranking, com 1,93 GigaWatts. Fortaleza, porém, é a 5ª maior cidade do País em potência instalada, com 104 MegaWatts.
Pesquisa, Redação e Edição: Carlos Martins
Por Ingrid Coelho
Fonte: Portal | Diário do Nordeste
Foto: Reprodução/Thiago Gadelha