Paixão pelo futebol e pelo evento mobilizam famílias e amigos na busca por figurinhas em diversos espaços de Fortaleza.
A febre na busca por álbuns e figurinhas da Copa do Mundo de Futebol é um fenômeno que se estende por gerações: a primeira edição data do campeonato de 1950, há 72 anos. No Ceará, colecionadores fazem verdadeiras mobilizações de tempo e dinheiro para conseguir completar os livros desde a década de 1990.
Se hoje o advogado Gabriel Motta Rochinha, 40, tornou o álbum um momento de interação com o filho, Miguel, 10, foi porque aprendeu o hobby com o avô, que colecionou os álbuns de 1970 e 1982. Os dois exemplares foram entregues ao Gabriel de 9 anos, antes de Antônio Motta falecer. “Ele brincava dizendo que era a herança”, conta o neto.
Cedo, Gabriel passou a montar sua coleção, ganhando o álbum de 1994 do pai. O entusiasmo foi tanto que, num dos episódios mais marcantes, ele saiu de casa para escola mas, na realidade, foi à Praça do Ferreira, no Centro, para trocar figurinhas repetidas.
De 2002 a 2010, ele continuou a coleção, embora, por vezes, se visse envergonhado por achar que era “coisa de adolescente”. Isso mudou quando Miguel nasceu, em 2012, e dali em diante Gabriel decidiu completar os álbuns para dar de presente ao filho.
“Infelizmente”, diz ele, tanto os álbuns do avô quanto aqueles até 2010 se perderam em alguma mudança de residência, embora ele mantenha a memória afetiva da coleção.
Apesar do passatempo, ele considera o preço “absurdo”. “Teve a criança que pintou as próprias figurinhas. Eu já fiz isso no passado quando não tinha dinheiro pra comprar e nem podia mandar carta para a edição. Hoje, você pede à editora aquelas que faltam e recebe. A forma de colecionar é mais complexa, para o mercado valorizar mais”, analisa.
DIVERSÃO EM FAMÍLIA
Toda Copa do Mundo é uma festa para o servidor público Matheus Monteiro. Desde 1994, junto com a irmã, ele se dedica por meses até conseguir colar até a última figurinha no papel. Essa, inclusive, é uma diferença que ele percebe na evolução dos álbuns.
O primeiro álbum, assim como o de Gabriel, se perdeu numa mudança, mas os demais estão preservados.
Para Matheus, o fato decisivo para se tornar fã dos álbuns foi ser levado pelo pai ao Centro da cidade, para um ponto de trocas. “Foi uma experiência única ver aquela quantidade de pessoas interagindo, escolhendo e trocando jogador. Ali tive certeza de que gostaria de fazer todos até quando eu tiver capacidade”, explica.
O servidor público conta que nunca fez nenhuma “loucura financeira” para conseguir completar os álbuns. Porém, admite trocar de 10 a 20 figurinhas por apenas uma quando faltam poucas unidades para completar o livro.
“Não sou a favor de figurinhas raras porque isso gera um mercado paralelo onde pessoas que nem tem interesse se apoderam pra vender. Quem coleciona, por ser apaixonado, precisa se submeter a elas. É um hábito que se tornou caro”, opina.
INÍCIO DA TRADIÇÃO
O primeiro álbum de Copa com tiragem no país, em 1950, saiu antes do início do mundial. Foi o primeiro a representar todos os jogadores da disputa e vinha em dois formatos: vertical e horizontal. Eram produzidos pela fábrica de balas “A Americana”.
Já o primeiro álbum oficial de Copa do Mundo foi lançado pela editora Panini, em 1970. A empresa ainda é responsável pela publicação e tem exclusividade sobre os álbuns do evento, hoje na 14ª edição.
Neste ano, para a Copa do Qatar 2022, a coleção contém 670 figurinhas de 32 seleções, sendo 50 especiais e mais 80 extras.
POR QUE O ÁLBUM GERA INTERESSE?
“A Copa do Mundo em si já mobiliza o país, e até quem não gosta de futebol para pra ver. O álbum já dá aquele gostinho da competição e vai mexendo com o ambiente”, percebe Matheus Monteiro, defensor de que o livro seja completado antes de a disputa iniciar.
O advogado Gabriel Motta concorda que, além da paixão pelo futebol e pela Copa, o álbum tem um caráter lúdico por trazer uma surpresa a cada pacotinho e permitir interações com pessoas desconhecidas para finalizá-lo.
“Quando termina, você vibra como se fizesse um gol e fosse campeão”, resume.
Pesquisa, Redação e Edição: Carlos Martins
Por Nícolas Paulino
Fonte: Portal | Diário do Nordeste
Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal