Estudo aponta que quase 52% das famílias cearenses amargam os piores níveis de insegurança alimentar
O Ceará se destaca como um dos estados do Brasil onde há maior risco de falta de alimentos nos domicílios com crianças menores de 10 anos. O alerta é de um levantamento da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan) divulgado nesta quarta-feira (14).
No Estado, 51,6% dos lares onde há crianças estão enquadrados em insegurança alimentar moderada (redução significativa de alimentos disponíveis) ou grave (a fome em si, seja por falta de comida ou por haver apenas uma refeição no dia).
A pesquisa foi realizada por meio de uma amostragem representada por 506 pessoas ouvidas no estudo, dos quais 128 eram residências de famílias com crianças.
No Nordeste, o Ceará fica atrás apenas do Maranhão (63,3%), de Alagoas (59,9%) e de Sergipe (54,6%). Em relação ao Brasil, onde a média é de 37,8%, fica na sétima colocação do ranking.
INFÂNCIA SEM SAÚDE
A falta do direito básico à comida gera um efeito dominó de negações. A primeira peça derrubada é a saúde física: da desnutrição à obesidade, são múltiplos os prejuízos de uma alimentação ausente ou precária, como lista Renata Belizário, nutricionista e professora da Universidade Estadual do Ceará (Uece).
“Anemia, deficiência de vitaminas, dificuldade de concentração, irritabilidade, falta de energia pra brincar ou desempenhar atividades diárias são algumas consequências. A criança não alcança o potencial de crescimento”, pontua a especialista.
A desnutrição, efeito que a sociedade mais associa à fome, é só um dos resultados gerados pelo acesso deficiente à alimentação, como explica Renata.
EFEITOS DA FOME CRUZAM GERAÇÕES
Além do corpo, as perspectivas das crianças que vivem hoje em insegurança alimentar no Ceará também se esvaziam. Renata Belizário destaca que a infância é um período de mudanças intensas, de modo que “qualquer variabilidade traz consequências até a gerações futuras”.
“Há um risco muito maior de aparecimento de doenças e infecções, pelo baixo sistema imunológico, prejudicando a atenção, a memória e a capacidade de aprendizagem de forma geral. Tudo isso leva a criança a um mau rendimento escolar”, avalia a nutricionista.
Garantir a presença de nutricionistas na atenção básica, que inclui os postos de saúde e as equipes de saúde da família, também é medida apontada pela professora como essencial para diagnosticar e conhecer as necessidades das famílias.
“Precisamos ajudar a população com campanhas de educação nutricional, fazer projetos, pesquisas. Implementar políticas públicas efetivas, e não só teóricas, para que não tenhamos uma população futuramente adoecida”, finaliza.
Pesquisa, Redação e Edição: Carlos Martins
Por Nícolas Paulino e Theyse Viana
Fonte: Portal | Diário do Nordeste
Foto: Reprodução/Fabiane de Paula