Funcionários também relatam tristeza pelos vínculos construídos ao longo de décadas de trabalho. Guararapes decidiu concentrar a produção no Rio Grande do Norte, demitindo 2 mil pessoas na Capital cearense

Seria apenas mais uma terça-feira de trabalho para dois mil funcionários empregados pela Guararapes, uma das mais tradicionais indústrias do setor têxtil em Fortaleza, se não fosse pelos rumores que se confirmaram: a companhia decidiu encerrar as atividades na capital cearense.

Apesar de a conversa ter ganhado os corredores da fábrica meses antes, o que de certa forma preparou os empregados, alguns tinham uma ponta de esperança que dali continuaria saindo o sustento da família ainda por algum tempo. É o caso da costureira Rosângela Maciel, de 49 anos, sendo 13 deles dedicados a Guararapes.

Mãe de três filhos com 29, 25 e 19 anos e com casa própria, Rosângela se emociona ainda mais quando pensa nas colegas mães de família, com filhos ainda pequenos, além dos companheiros de trabalho que dependiam do salário para pagar o aluguel.

E com essa situação que a também costureira Denise Neves, 42, se depara. Com um filho de 5 anos, ela destaca que “não pode ficar parada com família e com filho para sustentar”.

“Agora é a gente ir atrás de emprego, né?! Não pode ficar parada com família e com filho para sustentar. Eu tenho um filho de 5 anos e ficar parada não dá, porque ele sempre está pedindo alguma coisa e as contas chegando, então a gente tem que ir atrás. É receber as contas e ir atrás de um novo emprego”, diz Denise.

Logo no início da manhã e pouco após a chegada da reportagem à entrada da Guararapes, Benedito José de Paula, 55, que trabalhou durante 14 anos na fábrica, era um dos primeiros a sair após o comunicado. Despedindo-se dos amigos, ele compartilha o sentimento de confusão e receio.

O QUE DIZ A EMPRESA

Em nota, a Guararapes informou que irá centralizar sua produção fabril em Natal, no Rio Grande do Norte. "A decisão faz parte do planejamento estratégico da companhia com foco em otimizar a operação fabril para intensificar eficiência, competitividade e diversificação de produtos", disse.

A empresa ponderou que o modelo de negócio integrado do grupo permanece inalterado, preservando a cadeia de fornecimento nacional.

Em relação às pessoas que ficaram desempregadas, a indústria garantiu que todos aqueles os afetados por essa decisão estão recebendo a assistência com um pacote extra para auxiliar nesse período.  

"A todos foi oferecido a extensão do plano de saúde pelo dobro do aviso prévio e o valor de meio piso salarial. As máquinas de costura industrial foram doadas às costureiras e aos demais foi fornecido um adicional de mais um salário", afirmou, acrescentando que seguirá atuando no Ceará. 


Pesquisa, Redação e Edição: Carlos Martins

Por Ingrid Coelho

Fonte: Portal | Diário do Nordeste

Foto: Reprodução/Fabiane de Paula/SVM