Durante seu trabalho no Barão Vermelho e no começo de sua carreira solo, Cazuza criou letras que abordam o tema do amor e suas subdivisões. Já a partir do clássico "Ideologia", mais para o final de sua vida, o saudoso roqueiro resolveu se debruçar sobre questões mais políticas e sociais.
Esse é o caso de "O Tempo Não Para", que saiu nessa fase politizada do cantor, no álbum de mesmo nome. A letra aborda a sujeira dos políticos e a urgência da passagem do tempo, já que ele tinha descoberto portar AIDS recentemente.
No refrão, surge uma expressão que se tornou muito famosa na discografia de Cazuza: "A sua piscina está cheia de ratos / tuas ideias não correspondem aos fatos". Mas o que será que ele quis dizer com essa frase sobre piscina e ratos?
O canal Pensando nisso, em vídeo que destrincha a letra de "O Tempo Não Para", explica que esse trecho é uma forma de protesto contra as noções de status e padrões de comportamento dos poderosos da sociedade do Brasil.
"A piscina representa um símbolo de status e glamour na sociedade brasileira, sendo, por muito tempo, uma exclusividade de clubes em grandes cidades. No entanto, apesar de sua imagem externa transmitir status, beleza e poder, essa piscina em particular revela-se paradoxalmente vazia, suja e podre em seu interior. Cazuza, ao empregar a metáfora, possivelmente alvejava parte de seus críticos que defendiam padrões ideais de comportamento, rotulando-o pejorativamente como ‘bicha’ e ‘maconheiro’. No entanto, ao fazê-lo, esses críticos falhavam em reconhecer seus próprios defeitos, tais como a ignorância e a intolerância. A piscina, nesse contexto, torna-se uma representação simbólica não apenas da aparência enganosa, mas também da hipocrisia subjacente na sociedade", diz.
Já o site Cultura Genial fala sobre a associação da noção de posses (piscina) com a ideia de sujeira e esgoto. "Ele se dirige, mais uma vez, ao seu ouvinte (a sociedade brasileira), através do uso dos pronomes possessivos ‘tua’ e ‘tuas’. Uma piscina é um sinal exterior de posses, de luxo, que contrasta com a presença de ratos, normalmente associados à sujeira, ao esgoto. A piscina cheia de ratos parece metaforizar a vida das classes sociais endinheiradas cujos recursos financeiros não conseguem disfarçar a podridão, os segredos encobertos, os episódios escandalosos. Além das falsas aparências, menciona também as contradições e os preconceitos. Declara que as ideias do interlocutor "não correspondem aos fatos", que ele está enganado e a realidade não é do jeito que ele acredita.
Pesquisa, Redação e Edição: Carlos Martins
Por Gustavo Maiato
Fonte: Portal | Revista Whiplash
Foto: Reprodução