Encontro reverencia um dos grandes nomes da música brasileira, com clássicos e canções menos conhecidas
Cantor, compositor, pianista e arranjador, João Donato se consagrou como um dos ícones da música brasileira. Com destaque na bossa nova e no jazz – apesar de preferir ser considerado um sambista –, o artista ganhou uma série de releituras inéditas no fim do mês passado, com o lançamento do disco “Donato”, parceria da cantora Leila Pinheiro e do pianista e compositor cearense Ricardo Bacelar.
Gravado na capital cearense, o álbum reúne doze faixas, incluindo clássicos como “A Rã” e “Lugar Comum”, e é resultado de uma parceria musical recente, mas que já se mostra frutífera.
“Ricardo tem um dos melhores estúdios do Brasil. Me instalei na casa dele e ficávamos quase 12 horas por dia dentro do estúdio, criando, pesquisando a obra de Donato, procurando os melhores caminhos para o que queríamos”, conta Leila Pinheiro.
“Passeamos por várias fases do Donato com seus incontáveis parceiros – Gilberto Gil, Chico Buarque, Caetano Veloso, Ronaldo Bastos, Abel Silva, Sylvio Fraga e Lysias Ênio. Mas o critério máximo era conseguir achar uma cara renovada e nossa para as músicas escolhidas”, completa a artista.
O encontro dos dois artistas já começou musical: aconteceu no ano passado, quando Leila gravou com Ricardo, Roberto Menescal e Diogo Monzo uma versão de “Bye Bye Brasil”, composição de Menescal e Chico Buarque musicada e gravada pela primeira vez em 1979.
Após a gravação, os dois decidiram pensar em alguma produção juntos e passaram um fim de semana trabalhando no estúdio de Bacelar, o Jasmin Studio, localizado em Fortaleza. “Ricardo é uma usina de ideias, multi-instrumentista de imenso talento e nossa sintonia foi imediata”, destaca Leila.
Foi dos experimentos musicais em dupla que surgiu a ideia de fazer a releitura de Donato, completa Ricardo Bacelar. Além da voz de Leila e do piano do cearense, o violoncelo melodioso de Jaques Morelenbaum completa os arranjos de nove das doze releituras.
“Eu tinha feito um disco com a Delia Fisher – o ‘Andar com Gil’, que foi uma releitura da obra do [Gilberto] Gil – e achei que seguia na linha aquilo que eu estou fazendo com o Jasmin, que é privilegiar a música brasileira mais sofisticada”, explica Ricardo Bacelar.
O artista considera “Donato” um disco denso, que busca apresentar versões repaginadas e rebuscadas da obra do mestre da música brasileira – mas que, nem por isso, se resume a uma obra apenas para fãs “da velha guarda”. Para Bacelar, o trabalho deve emocionar qualquer pessoa que goste de música brasileira.
“É um disco denso, para quem gosta de música. É um disco que você tem que escutar, não para você fazer ginástica”, brinca, destacando que as canções podem ser ouvidas em qualquer momento, mas não como “pano de fundo”. “Foi um álbum trabalhoso, que teve que ser feito com muito critério e pesquisa”, completa.
O cuidado ao tratar da obra de Donato não se trata de mero preciosismo, mas de verdadeira admiração. “Donato foi um grande compositor, uma pessoa que tinha uma personalidade musical muito forte. E a gente fez esse disco para homenageá-lo e para apresentar o trabalho dele de uma outra forma”, ressalta.
Até 2025, o álbum deve ganhar uma turnê nacional com passagem por algumas capitais do País, como Rio de Janeiro e São Paulo. Fortaleza, terra natal do trabalho, também deve ganhar apresentações.
Pesquisa, Redação e Edição: Carlos Martins
Por Ana Beatriz Caldas
Fonte: Portal | Diário do Nordeste
Foto/Imagem: Reprodução