O ministro Marco Aurélio Mello, do STF (Supremo Tribunal Federal), classificou de “mordaça” a censura imposta pelo ministro Alexandre de Moraes à revista Crusoé e ao site O Antagonista.

Em entrevista à Rádio Gaúcha nesta quinta (18), em viagem ao Rio Grande Sul, Marco Aurélio disse ainda que, na opinião dele, a maioria dos ministros do Supremo é contra a determinação de Moraes de retirada de reportagens que revelaram o apelido do presidente da corte, Dias Toffoli, na Odebrecht.

“Penso que o convencimento da maioria é no sentido diametralmente oposto ao do ministro Alexandre de Moraes. Eu o conheço bem, ele [Moraes] deve estar convencido disso. Aguardo um recuo”, afirmou Marco Aurélio.

CONSTRANGER

De acordo com Toffoli, a revista e o site publicaram essa informação sobre o apelido para constranger o Supremo dias antes de a corte analisar a possibilidade de prisão após condenação em segunda instância.

“É ofensa à instituição à medida que isso tudo foi algo orquestrado para sair às vésperas do julgamento em segunda instância. De tal sorte que isso tem um nome: obstrução de administração da Justiça.”

O julgamento estava marcado para o último dia 10 de abril, mas foi adiado por Toffoli uma semana antes. Já a reportagem do site e da revista foi ao ar somente na noite de quinta-feira da semana passada (11) –e o documento da Odebrecht foi anexado nos autos da Lava Jato no dia 9 de abril.

Segundo o diretor da revista Crusoé, Rodrigo Rangel, “a reportagem descreve o teor de um documento constante dos autos da Lava Jato, contextualizando as informações nele contidas, sem fazer juízo de valor nem acusações ao ministro”. “E não há, no texto, qualquer tipo de ofensa ao Supremo Tribunal Federal”, afirma Rangel.

Ainda na entrevista ao jornal, o presidente do STF sugeriu existir “interesses internacionais” por trás dos ataques à corte. “A destruição das instituições e de reputações faz parte de uma campanha de ódio.

Temos que saber se não há interesses internacionais por trás disso, de desestabilizar as instituições. Interesses nada republicanos.”

Toffoli comentou também a decisão da procuradora-geral da República, Raquel Dodge, de propor o arquivamento do inquérito aberto por ele para apurar fake news e ofensas aos integrantes da corte. “A PGR opina, dá parecer. Quem decide é a magistratura, é o Poder Judiciário.”

Pesquisa, Redação e Edição: Carlos Martins

Fonte: Folha Press/Jorge Alves

Foto: Reprodução/STF