Maioria dos reservatórios foi construída entre as décadas de 1980 e 1990 no Estado
Historicamente, os açudes são importantes meios de garantir o abastecimento hídrico da população cearense, sobretudo em anos de estiagem. Pelo menos 11 dos 157 reservatórios monitorados pelo Estado já têm um século ou mais de construção, incluindo o primeiro inaugurado no Brasil: o açude do Cedro, que completa 117 anos em 2023.
A lista com o ano de fundação das barragens foi levantada e disponibilizada pela Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh) a pedido do Diário do Nordeste.
Paulatinamente, o Estado foi ampliando a presença de açudes no território. Após o Cedro, de 1906, veio o Acaraú-Mirim, em Massapê, em 1907. Na década de 1910, mais cinco barragens foram construídas. As décadas de 1920 e 1930 tiveram sete reservatórios abertos, cada. Lembrando que o Ceará enfrentou secas severas em 1915 e 1932.
Na década de 1940, vieram mais dois açudes; na de 1950, outros 16. Juntas, as décadas de 1960 e 1970 inauguraram 13 açudes.
No entanto, o maior número de açudes cearenses surgiu nas duas décadas seguintes: surgiram 30 na de 1980, e mais 40 na de 1990, reflexo de mais investimentos da política federal de açudagem. De 1979 a 1983, o Estado vivenciou cinco anos consecutivos de seca, conforme a Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme).
Segundo histórico da Secretaria dos Recursos Hídricos (SRH), ainda na década de 1980, “em decorrência da demanda crescente, resultante do crescimento urbano, industrial e agrícola, a água disponível tornou-se escassa, impondo a necessidade da elaboração de mecanismos de planejamento e gestão dos usos dos recursos hídricos”.
Os anos 2000 tiveram mais 19 reservatórios abertos. Nos anos 2010, quando o Ceará enfrentou outro período de seca prolongada (o mais grave desde 1910), entre 2012 e 2018, foram inaugurados mais 14 açudes.
Além da construção de barragens, o Estado implantou, sobretudo nos últimos anos, uma grande infraestrutura de adutoras subterrâneas utilizadas para interligar e bombear água das bacias hidrográficas, como o Eixão das Águas e o Cinturão das Águas. Isso permite que uma região mais seca seja atendida por outra em situação mais confortável.
Atualmente, os 157 açudes monitorados pela Cogerh estão com 50,9% da reserva, o melhor resultado dos últimos 10 anos. No entanto, as autoridades de gestão recomendam cautela, pois há preocupação quanto a um baixo regime de chuvas no Ceará, em 2024.
PIONEIRO NO PAÍS
O pioneiro Açude do Cedro, em Quixadá, foi planejado em 1877, ainda no Brasil Império. Por decisão de Dom Pedro II, uma comissão foi designada para implantar uma barragem no curso do rio Sitiá, no sertão central cearense, como forma de enfrentamento à seca na região, pois a grande seca de 1877-79 vitimou centenas de milhares de pessoas no Nordeste.
Segundo memorial do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs), em 1882, o primeiro projeto para a construção do Açude foi elaborado pelo engenheiro britânico Jules Jean Revy. Porém, às vésperas do início das obras, ocorre a Proclamação da República e, em seguida, a retirada de Revy.
“De acordo com estudiosos do tema, é possível afirmar que o Açude do Cedro iniciou um novo momento no semiárido nordestino, pois foi, a partir da construção dele, que o governo passou a projetar outras barragens para mitigar os efeitos das secas”, explica o Dnocs.
O Açude do Cedro tem capacidade para acumular 125 milhões de m³ de água, o equivalente a 50 mil piscinas olímpicas. Hoje, está com apenas 2% da reserva, em volume morto, de acordo com o monitoramento da Cogerh.
Com remodelações pensadas pelo engenheiro Ulrico Mursa, da Comissão de Açudes e Irrigação, as obras só foram iniciadas em 15 de novembro de 1890. Foram 16 anos de interrupções, sendo finalmente concluído em 1906, sob coordenação do engenheiro Bernardo Piquet Carneiro.
Atualmente, ele é candidato a receber o título de Patrimônio Mundial da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) porque, segundo o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), foi a primeira grande obra hidráulica moderna do continente sul-americano e uma das pioneiras obras do seu tipo e do seu porte no mundo.
AÇUDES ‘NOVATOS’
Ao contrário dos colegas centenários, Amarelas e Melancia são os açudes mais jovens do Ceará. Ambos foram inaugurados em 2022.
Inaugurada em janeiro do ano passado e com capacidade de armazenamento de 47,6 milhões de m³ de água, a barragem Amarelas, no sertão de Beberibe, ajuda no abastecimento hídrico e na piscicultura das cidades de Beberibe e Fortim.
Já a barragem Melancia, viabilizada para aumentar a segurança hídrica do município de São Luís do Curu, foi inaugurada em maio de 2022. Ela tem capacidade de acumular 27,36 milhões de m³.
CONFIRA A LISTA COMPLETA:
Cedro - 1906
Acaraú Mirim - 1907
São Pedro Timbaúba - 1916
Salão - 1918
Riacho do Sangue - 1918
Tucunduba - 1919
Várzea da Volta - 1919
Forquilha - 1921
Sobral - 1921
São Vicente - 1923
Santa Maria de Aracatiaçu - 1923
Acarape do Meio - 1924
Nova Floresta - 1926
Santo Antônio de Russas - 1927
Ema - 1932
Lima Campos - 1932
Joaquim Távora - 1933
Pompeu Sobrinho - 1934
General Sampaio - 1935
Ayres de Sousa - 1936
Amanary - 1938
Monte Belo - 1940
Do Coronel - 1946
Tijuquinha - 1950
João Luís - 1952
Várzea do Boi - 1954
Santo Antônio de Aracatiaçu - 1954
Poço Verde - 1955
Poço do Barro - 1956
Desterro - 1956
Patos - 1956
Pentecoste - 1957
São Mateus - 1957
Araras - 1958
Pau Preto - 1958
Poço da Pedra - 1958
Penedo - 1958
Junco - 1958
Do Batalhão - 1959
Quixeramobim - 1960
Trapiá III - 1961
Orós - 1962
Caxitoré - 1962
Bonito - 1964
Rivaldo de Carvalho - 1966
Banabuiú - 1966
Gomes - 1967
Quixabinha - 1967
Cupim - 1970
Gavião - 1974
São Domingos - 1977
Pedras Brancas - 1978
Carão - 1980
Realejo - 1980
Broco - 1981
Premuoca - 1981
Pacoti - 1981
Riachão - 1981
Facundo - 1982
Thomás Osterne - 1982
Farias de Sousa - 1983
Jaburu I - 1983
Martinópole - 1984
Adauto Bezerra - 1984
Jaburu II - 1984
Manoel Balbino - 1985
São José III - 1986
Edson Queiroz - 1987
Trici - 1987
Favelas - 1988
Forquilha II - 1988
Capitão Mor - 1988
Patu - 1988
São José I - 1988
Vieirão - 1988
Diamante - 1988
Escuridão - 1988
Frios - 1988
Mundaú - 1988
Prazeres - 1988
Colina - 1988
Sucesso - 1988
Tejuçuoca - 1990
Quandú - 1990
São Domingos II - 1990
Carnaubal - 1990
Quincoé - 1991
Atalho - 1991
Arrebita - 1992
Caldeirões - 1992
Parambu - 1992
Cipoada - 1992
São José II - 1992
Trapiá II - 1992
Canafístula - 1992
Potiretama - 1992
Tigre - 1992
Pacajus - 1993
Serafim Dias - 1995
Trussu - 1996
Valério - 1996
Fogareiro - 1996
Jerimum - 1996
Tatajuba - 1996
Jatobá - 1997
Jenipapeiro - 1997
Castro - 1997
Monsenhor Tabosa - 1998
Angicos - 1998
Olho d'Água - 1998
Canoas - 1999
Diamantino II - 1999
Gangorra - 1999
Sousa - 1999
Madeiro - 1999
Batente - 1999
Cauhipe - 1999
Sitios Novos - 1999
Cachoeira - 1999
Ubaldinho - 1999
Barra Velha - 1999
Flor do Campo - 1999
Benguê - 2000
Muquém - 2000
Pirabibu - 2000
Itaúna - 2001
Santo Antônio - 2001
Rosário - 2001
Castanhão - 2002
Catucinzenta - 2002
Carmina - 2003
Aracoiaba - 2003
Malcozinhado - 2003
Arneiroz II - 2004
Faé - 2004
Santa Maria - 2004
Gerardo Atimbone - 2005
Curral Velho - 2007
Itapebussu - 2007
Macacos - 2007
Pesqueiro - 2008
Taquara - 2010
Umari - 2011
Missi - 2011
Riacho da Serra - 2011
Jenipapeiro II - 2011
Jatobá II - 2012
Itapajé - 2012
Maranguapinho - 2012
Mamoeiro - 2013
Gameleira - 2013
Figueiredo - 2013
Jenipapo - 2014
Cocó - 2017
Germinal - 2017
Melancia - 2022
Amarelas - 2022
Pesquisa, Redação e Edição: Carlos Martins
Por Nícolas Paulino
Fonte: Portal | Diário do Nordeste
Foto: Reprodução/Hermann Rabelo