Receber elogios musicais de Bob Dylan é a maior honra imaginável para a maioria dos músicos. Desde sua chegada à cena folk nos anos 1960, Dylan provou ser uma voz cultural vital cuja posição na história americana transcende a música. Ser mencionado por ele de forma positiva é um sonho compartilhado por muitos.

Durante os anos 60, o cenário musical estava mudando a uma velocidade sem precedentes, estabelecendo as bases para o futuro. Pessoalmente para Dylan, nesta década, ele passou de um trovador desconhecido com um sonho para conquistar mais do que ele jamais imaginara, ganhando status messiânico antes de sua base de fãs se virar contra ele por pegar uma guitarra elétrica, para depois se apaixonar por ele novamente.

Foi uma era de inovação musical, e Dylan sabia que não era o único a desafiar limites. Outro americano que desempenhou um papel crucial foi Brian Wilson dos Beach Boys, uma figura que Dylan considera com a mais alta estima e acredita ter um ouvido inigualável para a melodia.

Uma citação no site oficial de Wilson de Dylan diz (via Far Out): "Jesus, esse ouvido. Ele deveria doá-lo ao Smithsonian. (obs: nome de uma rede de museus famosa nos EUA). Os discos que eu costumava ouvir e ainda amo, você não pode fazer um disco que soe assim. Brian Wilson, ele fez todos os seus discos com quatro faixas, mas você não poderia fazer os discos dele se tivesse cem faixas hoje."

Os comentários de Dylan sobre a genialidade de Wilson não deveriam surpreendê-lo, pois ele já expressou sua apreciação pelos Beach Boys. Durante uma entrevista à Rolling Stone em 1987, o cantor e compositor refletiu sobre sua música de 1965, 'Desolation Row', e elogiou o grupo pop por sua abordagem progressiva à criatividade.

Ele disse: "Eu sabia o que os Beatles estavam fazendo, e isso parecia ser coisa de pop real. Os Stones estavam fazendo coisas de blues - apenas blues de cidade. Os Beach Boys, é claro, estavam fazendo coisas que eu não achava que já tivessem sido feitas antes. Mas eu também sabia que estava fazendo coisas que nunca tinham sido feitas antes."

Além disso, os caminhos deles se cruzaram, embora nunca tenham trabalhado juntos. Em uma postagem nas redes sociais, o ex-Beach Boy detalhou seu primeiro encontro com Dylan na sala de emergência de um hospital em Malibu, lembrando como "ele tinha cabelos cacheados e era baixo" e se apresentou.

Wilson lembrou: "Ele estava lá porque tinha quebrado o polegar. Conversamos um pouco sobre nada. Eu era um grande fã de suas letras, é claro. 'Like a Rolling Stone' era uma das melhores músicas, sabe? E 'Mr. Tambourine Man' e 'It's All Over Now, Baby Blue' e tantas outras. Que compositor!"

No dia seguinte ao encontro surpresa deles, Dylan visitou Wilson em sua casa, e eles se conectaram por meio de seus gostos musicais compartilhados. Wilson explicou: "Foi uma conversa mais longa. Conversamos e conversamos sobre música. Falamos sobre músicas antigas que lembrávamos, músicas antes do rock and roll. Falamos sobre ideias que tínhamos. Cara legal."

Embora a música seja uma forma de arte subjetiva, as contribuições de Wilson e Dylan confirmaram objetivamente seu status como figuras lendárias que o Smithsonian deveria estudar.


Pesquisa, Redação e Edição: Carlos Martins

Por Gustavo Maiato

Fonte: Portal | Revista Whiplash

Foto: Reprodução/William Claxton - Sony Music