Com quase 30 minutos de atraso, a banda Men at Work subiu ao palco do Vibra, em São Paulo, sob lotação praticamente esgotada. A casa de shows segurou o início da apresentação da noite de quarta (21) por conta das complicações no trânsito que decorreram da combinação das fortes chuvas que caíram na cidade e da popularidade do Men at Work, que tem no Brasil seu principal mercado.
Um show de uma banda oitentista em pleno meio de semana não alarmou os estacionamentos do entorno da casa de shows, e o resultado foi um caos digno de festival, sendo que, lá dentro da casa de shows, nem banda de abertura haveria.
As quase 5.000 pessoas que lotaram pista, cadeiras e mezanino queriam ouvir os hits radiofônicos da banda formada em Melbourne, Austrália, em 1979, e que se tornou quase tão popular quanto Michael Jackson com seus muitos hits.
Com a backing vocal peruana Cecilia Noël, esposa do frontman e dono do Men at Work, Colin Hay, se comunicando com a plateia num português fofinho, a banda começou a apresentação numa cadência de warm-up. Não soltaria os primeiros hits logo de cara, seria quase uma ejaculação precoce diante de tanto tempo longe do Brasil.
Enquanto na pista e nos mezaninos rolavam soltos não só cervejas em copos enormes, mas drinks coloridos e baldes de pipocas, no palco os agora seis músicos da banda sabiam que a noite seria longa, então calma lá com as mais-mais da Alpha FM.
A banda abriu a noite com com "Touching the Untouchables", do primeiro e mais bem-sucedido álbum da carreira, "Business As Usual", de 1981, e em seguida tocou "No Restrictions", do segundo disco, "Cargo", de 1983, sem grandes impactos na plateia. Já na terceira música da noite, "Come Tumbling Down", da carreira solo de Hay, o público pareceu ter se concentrado mais no show e menos na fila do bar.
A quarta música, "Can't Take This Town", também de Colin Hay, foi a primeira a ganhar um tímido coro da plateia, já que a faixa fez parte do álbum gravado ao vivo no Brasil em 1996 e entrou para o repertório dos fãs.
Foi aí que a guatemalteca Sheila Gonzalez mostrou sua força no sax e brilhou — ela que pegou a missão de substituir o titular dos sopros no grupo, Greg Ham, morto em 2012 após uma parada cardíaca. Aliando técnica e simpatia, Gonzalez arrancou os primeiros gritos da plateia, que a essa altura já começava a gritar nomes de hits.
Nesses 43 anos desde o primeiro álbum gravado, o fundador da banda, Colin Hay, pode ter perdido (muito) cabelo, mas a voz segue firme e cristalina. Afinadíssimo e potente, como logo notou um fã mais sem noção, que não parava de gritar: "O tiozinho canta pra c...".
O Sherlock Holmes do Vibra estava certo: ao longo da carreira, cantar muito bem e compor belas canções pop tem sido o ganha-pão de Colin Hay e o que sustentou esses mais de 40 anos de uma banda que, sob a formação original, lançou apenas três álbuns numa curtíssima carreira que durou de 1979 a 1985.
Fórmula atemporal
O tão aguardado hit chegou com a sexta música da noite: "Everything I Need", já nos primeiros acordes, atiçou o público, que deve ter se lembrado de bons momentos da novela "A Gata Comeu", da qual a música — que na verdade é da Colin Hay Band — fez parte, em 1985.
"A gente já tocou no Rio de Janeiro e não sabe nem que dia é hoje. É quarta? Então, vocês têm que ajudar a cantar, dançar e gritar!", disse em seu português carregados de erres a backing vocal.
"Dr. Heckyll & Mr. Jive", do segundo álbum do Men at Work, foi a música que separou os fãs da galera do oba-oba. A faixa foi cantada a plenos pulmões por uma parcela do público e é um dos lados B mais adorados da banda.
Passada mais de uma hora de show, uma certeza. A fórmula atemporal de juntar reggae, blues, new wave e pop costurada por Hay se faz ainda mais viva na performance ao vivo. E com o time de músicos que ele reuniu, tudo fica mais interessante. Ao longo da noite, a banda se alternou em momentos virtuose, sempre arrancando palmas, mas foi a saxofonista Gonzales quem roubou a cena.
Depois de ser apresentado ao público pela backing vocal como o "maravilhoso, o gostoso Colin Hay", o band leader puxou o hit que o povo tanto queria, "Who Can It Be Now". Celulares saíram dos bolsos aos montes para gravar cada acorde da música que fez da juventude de muita gente presente ali algo um tanto mais cool. As atenções foram dividas entre a voz perfeita de Hay e o sax certeiro de Gonzales.
Entre músicas "de recheio", alternando blues e reggae, os pontos altos foram os hits, como "Overkill", cantada pela casa de show inteira, mostrando que a plateia deve ter aprendido muito vocabulário de inglês com as letras de Hay.
Na esteira de "Overkill" veio aquela que deve arrecadar rios de dinheiro no Ecad nacional; "It's a Mistake" foi trilha dos descolados, surfistas e frequentadores do Aeroanta, em São Paulo, no frescor dos anos 1980, e segue moderna apesar de ter prestado serviços nas últimas décadas sendo tocada de salas de espera de dentista a rádios de supermercado. Prova de que um grande hit não se destrói.
"Down Under", a faixa que apresentou o Men at Work para o mundo, foi anunciada como última música, talvez a mais desejada da noite, a materialização ao vivo daquele clipe engraçado que a turma toda viu quando era pequena. Foi apresentada com toda a pompa merecida, com direito a solos e uma tentativa de samba desajeitada de Hay.
Depois da encenação de final de show, hora do bis: em pouco mais de 10 minutos, dois hits ("Into My Life" e "Be Good Johnny") e uma linda cover ("Love Is the Sweetest Thing"). Para a multidão que foi aos poucos deixando o Vibra, a certeza de ter feito uma linda viagem no tempo e bons vídeos no celular pra mostrar pra família.
Pesquisa, Redação e Edição: Carlos Martins
Por Claudia Assef
Fonte: Portal | Revista Splash
Foto: Reprodução/Giu Pera