Não é de todo errado dizer que existem dois Genesis, se referindo à banda britânica formada em 1967, pois em sua primeira encarnação até 1975, que ficou conhecida como "era Peter Gabriel", o grupo se destacou pelo Rock Progressivo complexo com letras poéticas e performances teatrais extravagantes, com Peter usando trajes elaborados e fazendo uma narrativa dramática durante os shows, o que contribuiu para fazer com que o Genesis se tornasse um dos pilares do gênero.

Dentre os álbuns icônicos dessa fase estão "Foxtrot" (1972), "Selling England by the Pound" (1973) e "The Lamb Lies Down on Broadway" (1974), que são celebrados pela sua inovação musical e ambição artística.

Após a saída de Gabriel em 1975, Phil Collins assumiu o papel de vocalista principal, e a banda passou por uma transformação significativa. A era Collins (1976-1996) marcou uma transição do Rock Progressivo para um som mais acessível e comercial, incorporando elementos de Música Pop. Essa mudança resultou em um sucesso comercial massivo, com álbuns como "Duke" (1980), "Genesis" (1983) e "Invisible Touch" (1986) que dominaram as paradas musicais. Hits como "Invisible Touch," "Land of Confusion" e "Tonight, Tonight, Tonight" demonstraram a capacidade da banda de se reinventar e alcançar um público mais amplo, pois embora os fãs do Prog-Rock geralmente prefiram a complexidade da era Gabriel, a era Collins trouxe um novo nível de sucesso e popularidade global para o Genesis.

Em 1982, a formação "clássica" do Genesis se reuniu para um concerto único no Milton Keynes Bowl. O show foi organizado para arrecadar dinheiro para seu ex-vocalista Peter Gabriel, que enfrentava dificuldades financeiras após o fracasso do primeiro festival WOMAD, do qual ele foi o organizador. Conforme relatou a Louder, o repertório daquela noite consistiu principalmente de músicas da época de Gabriel com o grupo. No entanto, o Genesis moderno (agora um trio composto pelo vocalista/baterista Phil Collins, o tecladista Tony Banks e o baixista/guitarrista Mike Rutherford) havia alcançado um grande sucesso no verão de 1980 com "Turn It On Again". Então, embora o show em Milton Keynes fosse uma celebração do Genesis em toda sua glória do rock progressivo dos anos 70, seria indelicado não tocá-la.


Gabriel concordou em trocar de lugar com Collins para ele cantar o grande sucesso. Gabriel sabia tocar bateria e, afinal, quão difícil poderia ser tocar bateria em uma das músicas Pop do Genesis? Mas como se revelou, mais difícil do que Gabriel imaginava. "Era típico do Peter: 'Ah, eu consigo tocar isso'. Mas, assim que ele começou a tocar, ele passou a olhar dos lados e dizer 'Ah, droga!'", contou Tony Banks. Acontece que ele não havia se dado conta que a música é tocada em compasso 13/8. "O que a fazia parecer um carrossel. Peter pensava que tinha chegado ao fim, e de repente nós começávamos a tocar novamente", relembra Mike Rutherford.

"Turn It On Again" foi construída a partir de sobras de projetos de cada membro, relata a Wikipedia: a parte musical usada como refrão foi concebida por Tony Banks para "A Curious Feeling": "Nós meio que colocamos [o riff de Rutherford] – a parte que ele não usou em 'Smallcreep's Day', curiosamente – junto com a parte que eu não usei em 'A Curious Feeling', e juntamos essas duas partes. Tornamos a música muito mais rock; ambas as partes ficaram muito mais rock. A minha parte era um pouco mais épica, e a parte do Mike era um pouco mais lenta e um pouco mais heavy metal. E então o Phil deu uma batida de bateria muito mais direta; talvez nenhum de nós teria pensado que queríamos isso nessa parte [...] Também colocamos uma ou duas outras partes que acabaram sendo usadas".

Com isso, a música ficou caracterizada por uma estrutura rítmica complexa que raramente se vê na música pop, mas que é comum no Rock Progressivo. Collins confirma: `"Você não pode dançar com ela. Você vê pessoas tentando dançar com ela de vez em quando. Elas pegam o contratempo, mas não sabem por quê". E Tony Banks acrescenta: "Você não pode dançar ou bater palmas com ela por causa do tempo. Quando tocamos ao vivo, você sempre vê o público sendo pego de surpresa".


Pesquisa, Redação e Edição: Carlos Martins

Por Bruce William

Fonte: Portal | Revista Whiplash

Foto: Reprodução