Você já se sentiu sobrecarregado por ter que assumir responsabilidades que não são suas? Ou pior ainda, já percebeu que a falta de compromisso de um colega está colocando todo o peso do time nas suas costas?

Em muitas empresas, essa dinâmica acaba criando um desequilíbrio, o qual colaboradores comprometidos e competentes acabam sobrecarregados, e a liderança, por vezes, falha em intervir. Quando isso acontece, o impacto vai além das tarefas não cumpridas, pois afeta o engajamento, a motivação e a saúde mental de quem está se esforçando ao máximo. O que você pode fazer para sair desse ciclo? 

O Dilema de Felícia

Felícia integrava o time de tecnologia de uma grande empresa e se destacava pela habilidade de resolver problemas e pela disposição para ajudar os colegas. Reconhecida como “talento da empresa” por anos consecutivos, era querida por todos. Mas, nos últimos seis meses, Felícia passou a se sentir menos feliz. Um novo colega, com postura descomprometida, sobrecarregava Felícia, que acabava assumindo as pendências dele por orientação do líder. Ela acumulava tarefas fora de suas responsabilidades, sem sentir que havia uma alternativa. Assim, Felícia se viu em um dilema: deveria conversar com seu líder para expor sua insatisfação ou manter-se sobrecarregada para preservar sua imagem?

Felícia optou por não falar e, após algum tempo, pediu demissão. Sentiu-se desgastada e deixou de acreditar na liderança que, a seu ver, não equilibrava a carga de trabalho. Esse tipo de situação é frequente e afeta tanto líderes quanto liderados em diferentes níveis hierárquicos.

A situação de Felícia é comum no ambiente corporativo e acontece em vários níveis hierárquicos, prejudicando o dia a dia de líderes e liderados. Muitos optam pelo silêncio por medo de serem rotulados como funcionários descomprometidos ou contrários ao trabalho em equipe, e essa postura pode estar relacionada à necessidade de aceitação; ao modelo da cultura organizacional; ao estilo de liderança; ou, ainda, à falta de clareza e de transparência nas relações profissionais. Por outro lado, líderes com grandes desafios optam por contar com os mais comprometidos e talentosos do time, incorrendo no erro de sobrecarregá-los e perdê-los. 

Para mudar esse cenário, o líder precisa construir um ambiente de responsabilidade coletiva e de clareza nas expectativas, o que começa pela definição de papéis e responsabilidades. É fundamental que cada membro da equipe saiba exatamente o que se espera dele. Se houver um desequilíbrio nas atividades, o líder deve orientar e apoiar os colaboradores que estão com desempenho abaixo do esperado, ajudando-os a desenvolver habilidades e a se comprometer com a equipe. Programas de desenvolvimento, mentorias e metas com indicadores de desempenho podem alinhar o rendimento com as expectativas.

Além disso, feedbacks construtivos e contínuos, por meio de reuniões individuais e de equipe, ajudam a discutir responsabilidades, reconhecer esforços e identificar onde ajustes são necessários, afinal, ações de desenvolvimento não são infinitas, e o colaborador que está sobrecarregando os demais, por sua vez, precisa estar disposto a mudar sua postura.  Quando isso não ocorre, ajustes podem ser necessários, seja por meio de apoio ou até por meio de mudanças mais profundas, sempre priorizando a harmonia e a eficiência do grupo. Quando o líder não toma uma decisão, compromete sua autoridade e credibilidade. 

Transparência na comunicação também é essencial para evitar ressentimentos. Conversas abertas sobre a contribuição de cada membro e a importância do equilíbrio de trabalho ajudam a fortalecer a cultura organizacional. Quando todos entendem que o sucesso do grupo depende do esforço coletivo, conflitos diminuem. Essa ação precisa fazer parte da rotina do líder-gestor.

Por fim, é muito importante a criação de um ambiente em que as pessoas se sintam seguras psicologicamente e se sintam à vontade para tratar com o líder situações como esta. Normalmente, muitos adotam a postura de Felícia, o silêncio. Fazem isso pelo receio de serem rotuladas, e este sentimento tem início no estilo de liderança adotado pelo líder. 


O que fazer quando um colega age assim? 

Quando um colega de trabalho não cumpre suas responsabilidades e acaba sobrecarregando você, algumas ações podem ajudar a equilibrar a situação de forma construtiva:

1. Converse com clareza, objetividade e profissionalismo: tenha uma conversa franca com seu colega, explicando como as atitudes dele impactam o seu trabalho e a dinâmica da equipe. Evite personalizar ou acusar; mantenha o foco na solução. Utilize frases, como: “percebo que estou executando algumas atividades que fazem parte do seu escopo de trabalho e preciso alinhar isso com você.” 

2. Estabeleça limites: deixe claro até onde você pode colaborar sem comprometer suas próprias responsabilidades. Se o colega frequentemente delega tarefas injustificadamente, gentilmente recuse, explicando a necessidade de priorizar seu trabalho, ou solicite que ele valide primeiro com o líder. 

3. ocumente as atividades: manter registros das tarefas atribuídas e realizadas, utilizando ferramentas de produtividade (Asana, Monday, Evernote, Trello, entre outras), ajuda a mostrar onde está o desequilíbrio. Essa documentação pode servir como indicador e promove transparência. Ao assumir uma responsabilidade que não é sua, negocie a ordem das prioridades com o seu líder.

4. Peça suporte ao líder: se o problema persistir, procure o líder para uma conversa, levando evidências da sobrecarga. Explique a situação de maneira construtiva, mostrando como a redistribuição das tarefas beneficiaria o desempenho e o clima organizacional. Utilize frases, como: “para não prejudicar os indicadores do setor, gostaria de alinhar os prazos das minhas entregas, visto que estou executando algumas atividades adicionais.”

5. Se assumiu a responsabilidade, assuma a autoria: Nas reuniões de resultado, apresente todas as suas entregas, incluindo as que não são de sua responsabilidade direta. Ao fazer isso, cite apenas que se trata de atividades extras. Evite falar pontuando que o outro deveria ter feito, pois isso já ficará evidente. 

6. Ocupe espaços vazios com propósito: em algumas situações, assumir certas atividades pode ser uma oportunidade para mostrar seu valor, mas é importante que isso aconteça de forma equilibrada, sem comprometer sua saúde mental e o seu desempenho.

Equilibrar as responsabilidades no time não é apenas uma questão de justiça, mas de eficiência e sucesso coletivo. Líderes e liderados têm papéis cruciais nisso. Então, se você é líder, a verdadeira pergunta é: está disposto a tomar decisões difíceis para garantir um ambiente justo, com um time engajado e motivado? Se você é liderado, está pronto para ser parte da solução ou vai continuar carregando o peso das responsabilidades que não são suas? Lembre-se: a mudança começa quando decidimos agir.

Nesta coluna, abordo temas relacionados a carreira, liderança, coaching e as principais tendências do mercado. Contribua deixando sua pergunta ou sugerindo um tema nos comentários ou através do meu Instagram @delaniasantosds. Inscreva-se também no canal do YouTube: @delaniasantosds. Será maravilhoso compartilhar essa jornada com você. Até a próxima!


Pesquisa, Redação e Edição: Carlos Martins

Por Delania Santos

Fonte: Portal | Diário do Nordeste

Foto/Imagem: Reprodução